22°C 25°C
Maceió, AL
Publicidade

Braskem contesta informações de reportagem e Na Rede responde nota revelando documentos

Mineradora voltou a faltar com a verdade ao contestar materia, questionamentos são rebatidos com documentos

11/01/2024 às 15h47 Atualizada em 13/01/2024 às 07h39
Por: Thiago Correia
Compartilhe:
Braskem contesta informações de reportagem e Na Rede responde nota revelando documentos

Na noite da última terça-feira (9) o jornalismo do Na Rede recebeu uma nota oficial da Braskem em resposta a reportagem “14 minas de sal-gema estão sem acompanhamento de avanço vertical” publicada no último dia 8 de janeiro. Na nota, a mineradora elenca uma série de informações da reportagem e as classifica como "equivocadas", "incorretas" e "inverídicas". Em respeito ao bom jornalismo, o espaço para respostas de empresas e pessoas citadas nas nossas materéria, está sempre aberto no nosso portal, mas a prática dessjornalismo e bom requer a checagem dos fatos ditos e, obviamente, cada ponto citado na referida será diretamente respondida com os fatos. 
Estanhamente a nota encaminhada pela Braskem, começa com uma informação nova. segundo o texto: 

"NOTA DE ESCLARECIMENTO - PORTAL NA REDE (09.01.24)
Em relação à reportagem veiculada pelo Portal Na Rede, no dia 8 de janeiro de 2024, informando que “14 minas de sal-gema estão sem acompanhamento de avanço vertical”, a Braskem esclarece que: 
Não existem documentos onde conste a informação de que qualquer uma das 14 cavidades citadas na reportagem esteja “colapsando”. Não estão;  "
Nos causa estranheza o fato da Braskem fazer tal afirmação, porque todos os documentos publicados por autoridades, pela própria mineradora, laudos de investigações, desde 2019 dizem exatamente o contrário. Todas as minas - desde a de número 01 até a de número 35 - ou já colapsaram ou estão colapsando. Esse é o principal motivo de todo transtorno causado pela Mineradora para milhares de pessoas que moravam nos bairros afetados pelos afundamentos que foram provocados devido ao colapso das minas. Os relatórios são muitos, a maioiria, produzidos pela própria mineradora ou financiados pela empresa e atestam que nenhuma das minas de sal-gema permanace com a mesma cavidade subterrânea de quando foram paralisadas. Talvez não seja de conhecimento da Braskem, mas algumas cavidades estão completamente fora da camada de sal e com desmoronamento de teto crítico, avançando a cada exame de sonar, vários metros em direção a superfície.  Também não sabemos quem é o autor da nota, mas reiteramos que atualmente a mineradora já fechou com material sólido 5 cavidades que estavam com nível grave e acelerado de desmoronamento de teto - processo de colpaso -  e está em fase de execução de outras. Duas delas - a 25 e a 3 com suas cavidades totalmente fora da camada de sal porque colapsaram e subiram alguns metros dentro do folheto. Outra, a das minas 20 e 21, é maior que 3 estátuas do Cristo redentor e está colpasando vários metros em direção a superfície. Nos causa espanto ainda o fato do autor da nota, que fala pela mineradora, não saber desses fatos. A seguir publicaremos uma tabela elaborada pela própria mineradora mostrando o processo de desmoronamento do teto das cavidades. Os dados mostram onde estavam as minas na época dos primeiros sonares e os últimos onde estão as cavidades nos últimos sonares. Os valores representam o quanto cada mina está colapsando constantemente em direção a superfície. Se a tabela for insuficiente para mostrar a mineradora que as minas estão colapsando, podemos enviar todos os demais relatórios.

Continua após a publicidade

A nota segue assim:
"É equivocada a afirmação de que não existe monitoramento das cavidades em tempo real. A Braskem instalou na região uma das redes de monitoramento mais modernas e robustas do país. Os equipamentos transmitem informações em tempo real e todos os dados são compartilhados, também em tempo real, com os órgãos competentes;"

O Na Rede reitera que todos os documentos ao qual teve acesso - mais de 16 mil páginas -  atestam que não existe monitoramento das cavidades em tempo real. A rede de monitoramento de fato é moderna, eficaz, importante, um case e elogiável, mas nenhum dos métodos que prestam informação em tempo real é capaz de atestar com precisão, as mudanças diárias de geometria das cavidades e o avanço dessas crateras em direção a superfície. A rede montada pela Braskem subsida o processo de monitoramento de TODA A LAVRA e as informações dos equipamentos podem ser interpretadas para se ter uma idéia de que algo pode estar acontecendo. Mas reiteramos que se, por exemplo, houver um tremor de terra de forte intensidade relacionado ao desmoronamento de alguma cavdade, nenhum dos técnicos é capaz de atestar com precisão e em poucos minutos qual carvena provocou o tremor. Os equipamentos monitoram a deformidade da superfície, os tremores na região, mas não das cavidades, muito menos de uma cavidade específica. A própria Defesa Civil de Maceió emitiu uma solicitação para realização de sonar nas minas próximas a que colapsou porque não é capaz, com os recursos que tem, de atestar se a integridade dessas minas está intacta após o colapso da mina 18. Segue o documento para comprovar a afirmação:

A nota emitida pela Braskem segue contestando a informação da reportagem:
"Ao contrário do que diz a reportagem, o estudo de sonar não produz respostas em tempo real. É importante esclarecer que o sonar gera imagem das cavidades, em conformidade e periodicidade definida no Plano de Fechamento de Mina aprovado pela Agência Nacional de Mineração (ANM)."

Sobre essa afirmação, alertamos para que o autor da nota da Braskem releia a reportagem. É exatamente isso que está publicado. É imprescindível que, antes de se fazer uma alegação de que a reportagem contém informações equivocadas, o autor de tal afirmação leia o conteúdo da reportagem.

  
A nota da Braskem insiste em tentar validar a falsa afirmação de que existe monitoramento das cavidades. O texto segue dizendo:

"Os demais métodos que integram o sistema de monitoramento, sim, produzem informações “on-line”. Prova disso é que os alertas sobre a movimentação na cavidade 18 não foram produzidos a partir de sonar, mas emitidos por meio de dados de microssísmica e, posteriormente, de DGPS. Em tempo, o último sonar realizado na cavidade 18 foi em 4 de novembro de 2023;"

O caso da Mina 18, talvez, seja a maior e mais consistente prova de que o sistema não monitora as cavidades e sim a região. Segundo a Braskem o evento de dolinamento da mina 18 é dividido em duas fases. A primeira começou com uma sequência de eventos microssísmicos com início por volta das 11h30min do dia 06/11/2023 e seguiu até o dia 10/11 quando houve um intervalo de "normalidade". Entre os milhares de documentos aos quais tivemos acesso está uma apresentação realizada pela Braskem no dia 22 de novembro aos grupo técnico de acompanhamento da situação das minas em Maceió, liderado pela ANM. Na apresentação a Braskem faz um resumo dos eventos sísmicos que ocorreram entre os dias 06 e 11 de novembro.

Em nenhuma das 68 páginas desse documento a Braskem faz uma única referência de que os eventos sísmicos registrados estão ligados a cavidade 18. Em nenhum momento a Braskem afirmou que os sismos eram derivados do deslocamento vertical da cavidade 18. Ora, se o sistema fosse mesmo capaz de monitorar as cavidades em tempo real, a mineradora seria capaz de afirmar com precisão, desde o dia 06/11 que os tremores de terra derivaram do deslocamento vertical da cavidade 18. E isso não aconteceu. Ao contrário, a apresentação do dia 22 mostra que os sismos estavam concentrados numa região identificada como 3 e 4 com influência das cavidades 18, 20 e 21 além de outras minas, conforme figura abaixo:

Além disso, a hipótese que os tremores pudessem ser oriundos de outras duas minas a 27 e 29 foi descartada por conta da realização de exames de sonares. O documento informa que os próximos passos da mineradora, naquele momento, seriam a realização de sonares nas cavidades 18  e 20/21 para avaliar os reflexos dos sismos nessas cavidades.

Além disso, existem outros documentos de posse da nossa reportagem que mostram que a Braskem só atrelou os eventos sísmicos ao desmoronamento da mina 18 justamente após a campanha de sonar da mina 18. Nesse ponto, a mineradora volta a faltar com a verdade, porque  ao contrário do que afirma a nota da Braskem, o sonar na mina 18 não foi realizado somente no dia 04 e sim em datas posteriores - em sucessivas tentativas frustradas de acesso a cavidade, onde se identificou uma situação atípica na cavidade 18. Reforçamos em tempo que só iremos dar publicidade a esses documentos que provam a constatação do Na Rede nos próximos dias, onde vamos publicar uma reportagem especial investigativa sobre o colapso da Mina 18. A matéria está em processo de finalização e o documento será mostrado no momento certo.
Todos os fatos somente reforçam que se o sistema fosse capaz de monitorar as cavidades, ainda no dia 06 seria possível detectar o problema localizado na Mina 18 evitando todo o transtorno causado por um aviso que só veio no dia 29 e que motivou a retirada a força de pessoas de dentro de suas casas que ainda estavam na áera de criticidade 00 e 01. 
Entre todos os pontos da nota emitidos pela Braskem o único que complementa a reportagem é o que vem em seguida:

"Diferentemente do que afirma a reportagem, a microssísmica não registra tremores somente na superfície. Sensores estão instalados não apenas na superfície, mas em profundidades de 900m, 600m, 300m e superfície;" 
Na reportagem afirmamos que os sensores registravam somente tremores sentidos na superfície. A informação da instalação de sensores sísmicos nas três profundidades altera essa afirmação da reportagem, mas não altera o fato de que esses sensores não indicam de qual cavidade está vindo o tremor. Muda somente a localização, mas não o contexto. 

A nota segue contestando mais informações da reportagem:
"Também é inverídica a afirmação de que os alertas somente são acionados a partir de movimentos com 1.0 na Escala Richter. O protocolo aprovado pelo Comitê Técnico, que reúne as Defesas Civis Nacional e Municipal e a Braskem, prevê alertas relacionados tanto a microssismos abaixo de 1 (inclusive negativos), de acordo com a frequência, duração e concentração em um determinado local. Este, por sinal, é o principal critério de análise; "

Na reportagem, o Na Rede afirma que : "Microssísmica - Os acompanhamentos de microssísmica, citados na resposta, registram tremores que podem ser perceptíveis somente na superfície (mesmo que em baixíssimas magnitudes). Mesmo assim, as situações de Alertas só são acionados em casos de deslocamentos que superem 1ML na escala  Ritcher, após confirmação manual desse tremor, e após uma sequência de eventos. "
Sobre o assunto a reportagem tomou como base o documento intitulado "“Protocolo Para Emissão de Alerta para Eventos Sísmicos na Área do Mapa de Ações Prioritárias – Versão 4" encaminhado no dia 17 de agosto de 2023 para Ministério Público Federal e Defensoria Pública da União em Maceió – Alagoas. O documento possui 23 páginas e mostra que, mais uma vez, a Braskem falta com a verdade ao contestar a reportagem.
Na página 05 o documento começa a definir os status dos tremores para fins de monitoramento e define ações que devem ser realizadas com base na magnitude de cada evento.  O documento estabelece os status "NORMALIDADE, OBSERVAÇÃO, ATENÇÃO, ALERTA e ALERTA ALTO (ver Quadro 1), os quais são definidos pela magnitude dos sismos que servirão de base para determinar possíveis níveis operacionais dentro do Plano de Contingência".

O ítem 2 do documento, classifica o status de Normalidade e o ítem 2.1 estabelece o critério padrão dessa normalidade " 2.1 NORMALIDADE - Trata-se de um cenário de normalidade, com eventos sísmicos de magnitude < 1 ML."
O documento pode ser visualizado na imagem abaixo:

O protocolo segue definindo os critérios de status preocupantes. É possível ver cada um deles na imagem abaixo:

 

Além disso o mesmo documento na página 10, anexo 1, elabora uma tabela onde define consequências e ações que devem ser adotadas para cada status. O quadro normalidade está identificado em verde e evidencia a informação que relaciona esse status a eventos abaixo de 1 ML na escala Ritcher e não prevê nenhuma consequência nem ação. Veja na figura abaixo:

Portanto, o protocolo elaborado pela Braskem e demais autoridades, assim como está descrito na reportagem é diferente do que afirma a mineradora em nota, não prevê status de aleta para sismos abaixo de 1ML. 
A nota também contesta as informações sobre o monitoramento através do equipamento chamado piezômetro. Veja o que diz a nota da Braskem:

"Vale salientar que tanto as informações sobre a funcionalidade do piezômetro, quanto a imagem que ilustra a reportagem, estão equivocadas. A foto é, na verdade, de um modelo de piezômetro utilizado para barragens de rejeitos – e não para cavidades de sal. No caso do modelo de equipamento utilizado pela Braskem, ele não mede “pressões estáticas e de compressibilidade dos líquidos dentro das cavernas”, mas sim, a pressão e temperatura da salmoura;"  

Estranho o fato de haver contestação a esse ítem porque o texto usado na reportagem e a descrição escrita na nota dizem rigorosamente a mesma coisa. Talvez a autor do documento não seja hábil no quesito interpretação de texto, mas medir a compressibilidade dos líquidos, é medir a pressão, e quando a reportagem fala em líquidos nas carvernas, está exatamente identificando a salmoura. Até onde temos conhecimento, a salmoura é o produto final da diluição do sal no subterrâneo por água, que forma uma substância LÍQUIDA. Essa salmoura líquida é sugada pela tubulação e segue até a fábrica que fica no Pontal da Barra. Lá o processo de evaporação separa a água do sal e o sal serve como matéria-prima para produção de cloro, soda e outros produtos da Braskem. Mais uma vez evidenciamos a estranheza com a declaração, mesmo assim reforçamos aqui  que está escrito na reportagem:

"O Piezômetro é um aparelho instalado dentro da cavidade que fornece em tempo real as medições de pressões estáticas e de compressibilidade dos líquidos dentro das cavernas. No caso das minas, elas estão cheias de salmora (água e sal diluído). Esse equipameto monitora 24 horas a pressão interna da mina e caso haja algum tipo de problema que altere essa pressão (como um deslocamento grande e abrupto de solo) é possível saber em tempo real.
"

Sugerimos a mineradora e ao autor da nota que contestou as informações, uma releitura da reportagem.

Sobre a foto usada na reportagem, é ilustrativa! Em nenhum momento a reportagem atesta que se trata do equipamento instalado na cavidade. No jornalismo existem recursos que podem - e até devem - ser usados para melhor compreensão e assimilação do assunto por parte do leitor. Cientificamente é comprovado que a associação de imagens com conteúdo facilita a compreensão do leitor e é comum - no mundo todo - a utilização de imagens ilustrativas no jornalismo. 
O último ponto contestado pela Braskem na nota encaminhada faz referência aos manômetros. Veja o texto:

"Também é incorreta a afirmação de que os manômetros não monitoram a pressão da cavidade em si. Esse método de monitoramento é um dos mais utilizados em cavidades de sal no mundo, e a partir da pressão do topo, é possível calcular a pressão da cavidade;"  

A matéria afirma que os manômetros medem, no topo da lavra, a pressão do poço e não da cavidade e afirma ao longo da reportagem que as Minas não possuem monitoramento interno das cavidades. Essas afirmações continuam corretas, mesmo havendo cálculos que chegam na pressão interna da cavidade a partir da pressão do poço no topo, os manômetros não são equipamentos que monitoram o avanço vertical das cavidades. Assim como os piezômetros. Na própria lavra existem minas pressurizadas que registram desabamento de teto, de parede, ascendência vertical e mesmo assim continuam pressurizadas. Algumas com mais intensidade, outras com menos intensidade, mas existem casos  de minas que continuam em movimento vertical e as medições de pressão continuam estáveis. Podemos citar os casos das minas 32 e 35 conforme figura abaixo onde a Agência Nacional de Mineração atestou pressurização das cavidades - a pressão permaneceu estabilizada - , mas que ambas continuam registrando desabamento de teto.

 

Além disso, segundo relatório da própria ANM, das minas citadas na reportagem, apenas uma estaria sendo monitorada com manômetro - a cavidade da Mina 09. As demais, não constam o aparelho como base de monitoramento. O documento da ANM foi publicado no fim de Dezembro e não foi contestado pela Braskem, e seu conteúdo está na íntegra descrito na reportagem.

 A nota da Braskem é fechada com o seguinte texto:

"A Braskem reitera que todas as informações enviadas em resposta anterior à reportagem do Na Rede são fundamentadas em dados técnicos e públicos. Também reafirma seu compromisso com a segurança das pessoas, a transparência e responsabilidade na condução do fechamento definitivo dos poços de sal.  
Por fim, a companhia informa que não mantém em sigilo qualquer documento técnico e que esses são compartilhados periodicamente com as autoridades competentes. Os relatórios fornecidos à ANM e utilizados na reportagem constam do processo minerário, portanto não são sigilosos ou de acesso exclusivo"

Sobre esse último ponto, o jornalismo do Na Rede esclarece que dentre os vários documentos recebidos e utilizados para elaboração dessa e de outras reportagens, constam documentos que expressam diretamente sua confidencialidade. Como sugere a prática da ética e do bom jornalismo, desses documentos, nós somente extraímos as informações e as utilizamos para compor reportagens, mas mantemos o documento sob sigilo em respeito ao que está posto.

Sobre o fato de não haver sigilos sobre esses e mais documentos relacionados ao processo minerário, essas informação são importantes. Reiteramos que ainda essa semana e/ou na próxima, vamos encaminhar uma série de pedidos a Braskem de alguns documentos que podem vir a ser importantes para divulgação. E informamos que cada pedido feito por nosso jornalismo e cada resposta dada pela Braskem serão publicizadas em micromatérias para que a população tenha direito a saber se de fato a mineradora mantém os documentos em sigilo ou se está cedendo esses documentos para que seu conteúdo seja de conhecimento público.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários
Lenium - Criar site de notícias